Vegetarianismo melhora desempenho, mas deve ter acompanhamento, diz atleta
Pratos bem servidos, corpos esculturais e “dicas” sobre alimentação são itens de sobra nas mídias sociais. E nesse bufê cibernético também não faltam perfis sobre vegetarianismo, em que seus gerenciadores, influenciadores digitais ou não, pregam por uma vida sem proteína animal.
Além dos perigos de seguir orientações de quem não é especialista —podendo envolver inclusive escândalos como o da youtuber vegana que foi filmada comendo peixe—, dietas com muitas restrições trazem o alerta adicional da privação.
No caso do vegetarianismo, em que carne e derivados do leite estão fora da alimentação, a falta da proteína animal exige atenção redobrada. Diminuição do ferro —com uma possível anemia— e até perda de peso estão entre as preocupações, segundo Flavia Arruda, especialista em nutrição esportiva.
A nutricionista afirma, no entanto, que não há motivos para atletas de esportes de alta intensidade —como maratonistas— não adotarem uma dieta vegetariana caso queiram.
“É totalmente possível. Porém, o ideal é consultar um profissional capacitado para calcular a quantidade adequada de proteínas, carboidratos e lipídios, assim como analisar os exames bioquímicos e recomendar possíveis suplementações veganas.”
Vegetariano desde 2016, o educador físico Diego Zanotto adotou primeiro o ovolactovegetarianismo, em que se retira apenas a carne, para depois deixar de consumir qualquer produto derivado, como queijos e leite. Logo no início, percebeu a necessidade de procurar um nutricionista.
“Tive um pouco de dificuldade para ajustar minha alimentação”, conta. “Fiz uma consulta com uma nutricionista que abriu bem a minha mente e a partir de então consegui ajustar, suplementar o que precisava.”
Dentre as suplementações que toma está a vitamina B12, única que a dieta vegetariana não consegue suprir, e a proteína do arroz isolada. O consumo desta é como pós-treino, uma vez que Diego pratica corrida de obstáculos e natação de longa distância em águas abertas.
A rotina de exercícios de alta intensidade foi uma preocupação no início. “Como atleta, confesso que tive um receio no início, como era uma coisa um pouco nova para mim”. A hesitação, no entanto, passou quando o educador físico percebeu os benefícios.
“Minha energia melhorou muito, minha disposição, porque a digestão é mais rápida. Mesmo após uma refeição grande, em poucos minutos já sinto uma vitalidade maior”, diz. “Mas a grande diferença mesmo é a imunidade. Eu não fico mais doente.”
Diego afirma também que o desempenho pode ser afetado após a adoção do vegetarianismo por falta de um acompanhamento de um profissional. “Pode comprometer o fato de ser algo novo muitas vezes para a pessoa, e ela não ter um conhecimento suficiente, mas se sentir auto suficiente para controlar sua dieta e sua suplementação e acabar pecando pela deficiência de algum nutriente.”
Sem esse o acompanhamento, Flavia destaca que, além dos problemas citados acima, o atleta pode ter perda de massa magra e de desempenho durante as provas. “Caso não tenha nenhum conhecimento sobre os substitutos das proteínas de origem animal, ele pode vir a sofrer perda da massa magra, mas com ajuda de um profissional especializado esse quadro é totalmente reversível.”
A nutricionista destaca, ainda, o cuidado na hora de seguir dicas de outras pessoas e de perfis em redes sociais. “Cada organismo é único e tem uma individualidade bioquímica específica.”
E caso adote a dieta vegetariana, é importante prestar também atenção nos sinais que o corpo dá de que algo está errado. Flavia alerta para a dificuldade na recuperação dos treinos, a perda de peso ou de massa magra, a redução no desempenho durante as provas e a anemia ferropriva, decorrente da deficiência do ferro no sangue.