‘Cada km é por ele’, diz atleta que buscou na corrida uma forma de lidar com a perda do irmão
Só quem já perdeu alguém próximo sabe que o processo de luto não é fácil e que cada um tem uma forma diferente de lidar. A jornalista e maratonista Mônica Magalhães encontrou na corrida esse consolo para a morte prematura do irmão em um acidente de carro.
Ela já praticava o esporte e tinha o irmão como seu grande incentivador. Foi ele quem a fez correr a São Silvestre e é com ele que ela conversa durante os quilômetros percorridos.
Tem uma história de superação na corrida ou participou de uma prova inspiradora? Envie seu relato para o email linhadechegadablog@gmail.com
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Reconheci que precisava de ajuda em meados de 2014. A ficha caiu ao ver uma foto minha. De repente, não me reconhecia na imagem. Naquele momento o sobrepeso já criava sérios problemas de autoestima. Eu sabia que estava caminhando para um quadro de depressão e não conseguiria dar a volta por cima sem apoio.
Com a ajuda da minha mãe, busquei auxílio profissional. Foi o primeiro passo. Eu estava preparada para mudar totalmente meu estilo de vida. Passei a frequentar a academia e a me dedicar a reeducação alimentar.
O convite para a corrida surgiu no mesmo ano e veio do meu pai. Tratava-se de uma prova beneficente, com o valor das inscrições revertido para as crianças de um orfanato em Itaquaquecetuba (SP). Tocada pela causa, aceitei o desafio. Para minha surpresa e felicidade, conclui os 6 km e subi ao pódio como terceira colocada na minha categoria.
Passei a fazer parte do Suando a Camisa —grupo de amigos corredores. Um ano depois, veio a primeira meia maratona. Desde então, tenho tido o privilégio de colecionar boas histórias de superação e bons amigos— chamados carinhosamente de ‘môs benzinhos’.
Meu irmão, meu grande companheiro de jornada, era também o meu maior incentivador e fã. Um dia, quando ele me perguntou por que eu não faria a São Silvestre, me lembro de ter rebatido, como quem olha assustada para um dinossauro. “Tá louco, gordinho?! São QUINZE quilômetros”. A resposta veio com descontração e orgulho: “Você consegue, Moniquinha! Você é atleta”. Ele nunca soube, mas no ano seguinte eu busquei a medalha da tradicional prova para ele.
Dez meses antes de eu cruzar a linha de chegada na avenida Paulista, o perdi em um acidente automobilístico, em fevereiro de 2018. A São Silvestre passou a ter um outro significado na minha vida.
Oito meses após o acidente, durante os primeiros quilômetros da minha primeira maratona trail, fui mais uma vez tomada pelas lágrimas da saudade avassaladora. Cheguei a pensar que não iria até o fim do percurso. Me lembrei daquele sorriso lindo, daquela alegria contagiante e passei a conversar com ele em pensamento. Aos poucos fui me acalmando.
Quando me dei conta, estava sorrindo e cantarolando as músicas que ele adorava. Naquele dia, cruzei a linha de chegada como a quarta colocada na minha categoria e subi ao pódio com o rosto dele estampado na camisa.
A cada medalha conquistada ainda ouço a voz do meu irmão dizendo orgulhoso: “Parabéns, Moniquinha!”. É o que me faz seguir em frente. Eu calço o tênis, não para correr, mas para encontrá-lo e homenageá-lo. É um momento nosso, meu e dele.
É o momento de relembrar os 27 anos em que tive o privilégio de ser a irmã, a cúmplice, a ‘parça’, e a Moniquinha do cara mais incrível que eu já conheci! Por isso, cada passada, cada quilometro é por ele. É para ele. O grande amor da minha vida!