Em meio a polêmicas de doping, presidente da Nike deixará o cargo
O presidente-executivo da Nike, Mark Parker, irá deixar o cargo no início do próximo ano, segundo The New York Times. O anúncio foi feito por meio de comunicado divulgado pela empresa nesta terça-feira (22) e vem na sequência de um escândalo de suspeita de doping no Nike Oregon Project, de treinamento de atletas de elite.
Apesar de sair da função, o que está previsto para ocorrer em 13 de janeiro, Parker assumirá a diretoria-executiva do conselho da Nike, ainda de acordo com o jornal americano. Ele trabalhará de perto com seu substituto, John Donahoe, que integra o conselho da empresa, está à frente de uma companhia de serviços de nuvem e já presidiu o eBay.
“Estou feliz que John fará parte de nosso time”, afirmou Parker no comunicado divulgado. “Seu conhecimento em comércio eletrônico, tecnologia, estratégia global e liderança, combinados a sua forte ligação com a marca, fazem dele a pessoa ideal para acelerar nossa transformação digital.”
Parker assumiu a função em 2006, e, em sua gestão, a marca ganhou financeiramente, em especial nos últimos três anos, quando o valor das ações triplicou. Foi sob a liderança de Parker, porém, que a Nike também passou –e ainda passa– por alguns de seus maiores escândalos.
O mais recente foi a suspeita de doping no Nike Oregon Project, voltado para treinar atletas de alta performance, em sua maioria americanos.
O líder do projeto, Alberto Salazar, foi suspenso pela Usada (Agência Antidoping dos Estados Unidos, na sigla em inglês) e teve a licença revogada pela Iaaf (Associação Internacional de Federações de Atletismo) no fim de setembro, em meio ao Mundial de Atletismo em Doha.
O ex-presidente da Nike manteve seu apoio ao técnico, mas decidiu encerrar o programa. Em memorando, Parker disse que a investigação que levou ao banimento de Salazar não encontrou o uso orquestrado de doping nem evidência de substâncias para melhora de performance administradas nos atletas do projeto.
O então executivo da marca, no entanto, estaria ciente das iniciativas de Salazar pelo menos desde 2009, segundo emails divulgados pelo The Wall Street Journal.
O QUE É O NIKE OREGON PROJECT
Ainda que com um fim pouco glorioso, o projeto para atletas de elite da Nike foi responsável por levar esportistas a coletar vitórias em campeonatos e provas internacionais —o caso coloca dúvida sobre algumas dessas conquistas.
O somali naturalizado britânico Mo Farah levou seis títulos mundiais e quatro medalhas de ouro em Olimpíadas durante sua participação no projeto (ele saiu em 2017, após a divulgação das denúncias de dopping).
E faziam parte do time até o seu fim o americano Donavan Brazier, que venceu os 800 metros no Mundial de Doha, este ano, e Yomif Kejelcha, da Etiópia, que bateu o recorde de uma milha indoor no início de 2019.
Galen Rupp, medalhista nas maratonas de Londres (2012) e Rio (2016), é outro atleta que ficou no projeto até o fim. O americano morava em uma “casa de altitude” em Portland.
A cidade está a apenas 15 metros acima do nível do mar, mas um filtro de ar simulava níveis de oxigênio de altas altitudes para aumentar o nível de hemoglobina no sangue naturalmente, o que signifca maior capacidade respiratória aos corredores.
Tudo isso fazia parte do alto investimento em atletas de elite, principalmente americanos, que surgiu em uma conversa entre Salazar e o atual presidente de inovação da Nike, Tom Clarke, em 2001. Durante a Maratona de Boston, Clarke se incomodou com a euforia de um narrador com a sexta colocação de um americano na prova.
“As coisas ficaram tão ruins que estamos celebrando isso?”, questionou Clarke. Salazar disse, então, que poderia treinar atletas americanos para se tornarem novamente competitivos. Assim começou o Nike Oregon Project, que viu seu fim protagonizado pelo mesmo responsável de seu nascimento.