A corredora que vai para a Olimpíada de Tóquio após seus primeiros 42 km

“O que está acontecendo?”, perguntava Molly Seidel, 25, após cruzar a linha de chegada em Atlanta, na qualificatória realizada no sábado (29) para definir a equipe americana que correrá a maratona na Olimpíada de Tóquio.

Ocupando a segunda colocação, ela ultrapassou nomes favoritos para representar os EUA nos 42 km, como Jordan Hasay, Sara Hall, Molly Huddle, Emma Bates e Des Linden. Num percurso com subidas e num dia frio e com vento, ela concluiu sua primeira maratona em 2h27min31seg, oito segundos atrás da primeira colocada, Aliphine Tuliamuk.

Mas Seidel venceu mais do que corredoras de elite e um trajeto desafiador. De com acordo com o New York Times, ela superou um distúrbio alimentar e uma série de lesões, como da lombar. Tantas que, “se fosse listá-las, ficaríamos aqui o dia inteiro”, disse a atleta, segundo o jornal americano.

Além disso, apesar de ser considerada uma corredora de elite, ela tem uma vida como a de muitos. Precisa pagar boletos, tem a irmã mais nova como colega de apartamento e divide seus dias entre os treinos e o trabalho em uma cafeteria ou como babá. Isso antes de passar os últimos dois meses treinando em altitude em Flagstaff, no Arizona.

A qualificação para a Olimpíada foi um choque não só para ela, como para alguns colegas e clientes da cafeteria que sabiam sobre sua “elite”. “Contei para eles que me classifiquei, e eles ficaram felizes, mas também ficaram tipo: ‘Você é uma nerd que corre’.”

Seidel foi uma estrela do atletismo durante a faculdade e sempre se destacou nos 5.000 metros e 10.000 metros. Nascida em Wisconsin, venceu o Campeonato Foot Locker de Cross Country em 2011 e tem quatro títulos da Associação Atlética Nacional de Universitários.

Mas enquanto sua carreira deslanchava, ela precisou parar para cuidar de sua saúde. A atleta disse à Runner’s World que recusou um patrocínio quatro anos atrás por não estar emocionalmente pronta para ser corredora profissional. “Sua saúde de longo prazo é mais importante do que correr 5 km rápidos daqui a três meses”, afirmou à revista.

Seidel conquistou sua vaga para as qualificatórias em Atlanta em dezembro de 2019, após correr a meia maratona (21 km) de San Antonio em 1h10min27seg.

Também fez uma prova rápida de 7,6 km no Dia de Ação de Graças no ano passado, em Connecticut, ao empatar com a queniana que corre pelos EUA, Sally Kipyego, e que agora é sua colega de equipe para Tóquio. Elas completaram a distância em 24min43seg.

A estreante em maratonas, porém, prefere fazer outro tipo de prova, nada competitiva, no tradicional feriado americano. Em sua terra natal, ela corre fantasiada. “Não há nada melhor que vencer meninos vestida de peru”, disse, segundo o New York Times.

Essa pacata rotina da atleta olímpica deve mudar um pouco após Atlanta. Seidel contou que, se alguém lhe contasse seis meses atrás que ela estaria classificada para Tóquio, ela diria “ok, engraçado”. Agora, porém, a maratonista precisa se preparar para enfrentar o que passa a ser realidade.