Pode sair para correr durante a pandemia?

A pandemia de coronavírus pegou em cheio os atletas, tanto os profissionais quanto os amadores. O calendário esportivo foi completamente impactado, com adiamento da Olimpíada, de campeonatos de atletismo e de corridas de rua.

Se para quem se preparava para Tóquio, a nova data pode significar problemas, nós, humanos corredores, ficamos na dúvida: sair ou não sair de casa para treinar?

A recomendação é isolamento para evitar a propagação do vírus —e há inúmeros exercícios para se fazer dentro de casa. Ainda assim, para quem encontrou na corrida uma paixão não poder colocar o tênis no asfalto parece um desafio maior do que completar uma ultramaratona no deserto.

Os médicos divergem quanto aos treinos externos, mas a notícia pode ser boa —ao menos para a maioria. “O exercício físico pode ser praticado, sim”, afirma o infectologista Lucas Chaves. “A grande questão é respeitar o limite, dois metros de contato entre as pessoas. Se for praticar, que seja preferencialmente sozinho.”

Chaves esclarece que, ao se exercitar com alguém, acaba acontecendo uma aproximação física, menor que dois metros. “Quer queira quer não, vai conversar. Se por acaso algum dos dois estiver no começo da transmissão, é difícil controlar que não vão trocar vírus entre si, não só corona, como qualquer vírus que circula nessa época.”

Sair sozinho é necessário, alerta o médico, pois o coronavírus está presente em secreções como saliva, em gotículas que acabam saindo durante as conversas, além de quando se tosse e espirra. Nesse sentido, o ideal é buscar locais em que não haja circulação de pessoas, como ciclovias e ruas mais afastadas.

O infectologista chama a atenção, porém, que devem permanecer em isolamento aqueles que apresentam sintomas. “Tem qualquer um dos sintomas [respiratório ou febre], não é pra sair de casa. Não é mesmo, não dá para fazer exercício.”

O risco, nesse caso, vai além da contaminação. “Se a pessoa tiver sintoma e for um caso suspeito, o ideal é não forçar muito porque pode intensificar falta de ar”, explica Chaves. “Talvez essa pessoa não precisasse ir ao hospital, mas porque sobrecarregou demais o corpo, é possível que se sinta mais desconfortável e vá ao hospital até desnecessariamente.”

Já Renata Castro, especialista em medicina esportiva, não faz ressalvas e diz que o melhor é ficar em casa. “Até o momento, conhecemos o contágio pelo novo coronavírus em dois formatos: a inalação direta de aerossóis contendo o coronavírus e o contato de mucosas com objetos (ou mãos) contaminados.”

Como não há como limpar o ar por onde circulamos, ela destaca um estudo publicado na New England Journal of Medicine. “Apesar de ter sido realizado em condições de laboratório, este estudo alerta para o risco de contágio, mesmo que não tenha contato direto com uma pessoa infectada.”

Isso quer dizer que, se alguém infectado tossiu ou espirrou sem proteger boca e nariz, o vírus poderá ficar viável naquele ambiente por pelo menos três horas, segundo a médica.

“Então, teoricamente, se você passar pelo mesmo local neste período, existe o risco de contaminação”, explica. “Neste momento em que novas informações são geradas a cada dia, o mais prudente é permanecer em casa, evitando as corridas em ambiente externo.”

Chaves, no entanto, destaca que, mesmo lugares da Europa e nos EUA, onde a quarentena é mais rígida do que no Brasil, têm adaptado a vida exatamente para as pessoas não ficarem absolutamente confinadas.

E, no fim de tudo, vale o bom senso. Tem sintomas? Fique em casa. Faz parte do grupo de risco? Fique em casa. Não consegue correr em locais com pouco movimento? Você já sabe… fique em casa.