Com videoconferência, ambientes de casa viram academia durante confinamento
As academias fechadas desde meados de março devido à pandemia de coronavírus fizeram com que os alunos levassem a rotina das atividades físicas para dentro de casa, o que nem sempre é fácil.
Há dúvidas quanto à adaptação dos exercícios, já que muitas vezes não há halteres, anilhas e barras, ao espaço necessário e até em como manter a motivação no mesmo espaço em que se dorme e, em alguns casos, trabalha.
Aluna de funcional há seis anos, Karla Bittencourt, 46, não sabia como seriam as aulas por videoconferência, ferramenta que antes só usava para reuniões de trabalho.
“Foi um desafio. A gente se perguntava como vai ser o espaço, como vai carregar peso, correr lateralmente”, relata a funcionária administrativa. “Então os instrutores adaptaram os exercícios ao nosso espaço, porque nem todo mundo tem um lugar grande.”
Ela faz suas aulas na sacada do apartamento, com alguns pesos que tem em casa. Seu instrutor, o educador físico Diego Zanotto, relata que o principal desafio foi justamente a questão dos materiais e do espaço físico disponíveis.
“Acaba que o leque de opções de exercícios não é tão grande quanto num treino ao ar livre, em que eu levo material, ou dentro da academia.”
Idealmente, Diego recomendou que seus alunos tivessem espaço de cerca de 9 m², que permitiria deitar com certa folga e se movimentar em exercícios que assim exigissem. Não é o caso de todos, então a orientação do educador físico é que se procure um local o mais aberto possível.
“Às vezes, uso o mobiliário da casa para alguns exercícios, como cadeira, sofá. Quem não tem colchonete falo para usar edredom ou toalhas”, exemplifica. “Tem que usar bastante a criatividade.”
Para locais pequenos, como nos apartamentos, Aline Caniçais, fisioterapeuta de empresa que fabrica equipamentos de reabilitação física, diz que o mínimo ideal é conseguir deitar no chão, com os braços estendidos para cima da cabeça e com cerca de 30 cm livres além dos pés. “Já é o suficiente para fazer excelentes exercícios”, destaca.
O importante, segundo ela, é abrir um espaço na casa para assistir aos vídeos disponibilizados por academias e profissionais no YouTube ou acompanhar as aulas por videoconferência, como optaram alguns instrutores.
Com 10 a 15 alunos por sessão, Diego adotou o aplicativo Zoom para passar os treinos. “Está sendo bem surpreendente, estou achando bem legal a interação com as pessoas. É uma possibilidade que nunca tinha pensado antes e tenho visto que funciona, porque consigo ver todo mundo e corrigir as pessoas em tempo real, conversar com elas.”
Escolher a melhor plataforma para as aulas foi um ponto importante, pois a qualidade de vídeo e de áudio são fundamentais tanto para que o aluno possa ver e entender qual é o exercício, como para o professor acompanhar sua execução, explica o educador físico.
“Tento fazer com que posicionem sua câmera, do celular ou computador, de uma maneira que eu consiga enxergar o corpo inteiro ou pelo menos as principais partes para cada exercício para poder corrigir.”
Já a tela usada por Karla para seus treinos mudou desde que a nova dinâmica começou. Antes, usava o celular, mas ela relata que pelo computador consegue acompanhar a descrição dos exercícios de uma maneira melhor.
A atenção na orientação das atividades é, inclusive, um dos principais pontos para evitar lesões dentro de casa, alerta Aline. “Quem está recebendo instrução por vídeo deve sempre assistir a uma ou mais vezes todo o movimento, prestar atenção na postura, nas articulações, para depois fazer.”
Ela destaca ainda que a opção por acompanhar as sessões por celular, computador ou na SmarTV vai depender da atividade e de quem a pratica. “Para idoso ou quem vai iniciar o exercício, que precisa olhar o movimento, a tela maior acaba fazendo diferença.”
Outro auxílio é utilizar um espelho, mesmo que pequeno, para observar se a execução de determinado exercício está de acordo com aquilo que é mostrado no vídeo.
Por último, um dos obstáculos enfrentados pelos alunos é manter a motivação, o que às vezes é mais difícil do que fazer flexão com um braço só.
Karla afirma que se mantém focada no que o exercício trouxe para ela até hoje, além de ver na atividade uma forma de terapia para extravasar e superar o confinamento.
Seu instrutor, por outro lado, mantém todos no pique com variações nos treinos, determinando um horário para que se crie um compromisso e também suando a camisa. “A galera gosta muito de ver o professor treinando junto e isso mantém a aderência.”
Para tentar espantar a preguiça, Aline aconselha levantar da cama e colocar a roupa de academia. “Você se olha no espelho já vestido e se motiva.”