Exercício físico aumenta a imunidade? Saiba benefícios e riscos

Não é de hoje que se escuta a máxima de que exercício físico melhora a imunidade. A afirmação, porém, ganhou ainda mais força no ano passado, quando estourou a pandemia de coronavírus.

É importante frisar que, apesar dos incontáveis benefícios, exercício não é vacina e não vai deixar o praticante imune a qualquer doença. Ele funciona como prevenção e está sempre aliado a cuidados complementares, como alimentação e, atualmente, o uso de máscaras para evitar a disseminação da Covid-19.

Um dos frutos que se colhe da prática constante de atividade física é o fortalecimento da defesa do organismo, como explica Fabio Ceschini, profissional de educação física especialista em fisiologia do exercício e ciência do esporte. “Tanto o ganho de massa como o emagrecimento, que são os principais objetivos que as pessoas buscam quando se exercitam, dependem da melhora do sistema imunológico.”

Ou seja, um sistema fortalecido não só previne doenças como facilita a hipertrofia e a perda de peso. Isso porque, durante a prática –e aí entram musculação, corrida, pedalada, caminhada etc.–, o músculo se contrai e relaxa, o que resulta em proteínas. Essas substâncias são respostas do nosso organismo, o tal do sistema de defesa, que atuam em diferentes áreas do corpo e, por isso, melhoram a imunidade.

Ceschini, que fundou a plataforma de ensino Viajando pela Fisiologia, ressalta que o sistema ajuda a proteger “o ser humano de desenvolver doenças comuns como diabetes tipo 2, obesidade, acúmulo de gordura no fígado e até mesmo câncer e não está só ligado à prevenção de vírus da gripe e doenças respiratórias”.

A prática, claro, também traz benefícios, fortalecendo o organismo para enfrentar uma contra gripe comum e podendo, inclusive, ajudar contra o coronavírus.

Um estudo da revista Diabetes & Syndrome: Clinical Research & Reviews publicado na metade do ano passado concluiu que o “aumento da capacidade aeróbia pode produzir melhorias seguras de curto prazo na função dos sistemas imunológico e respiratório, particularmente aqueles específicos para infecções por Covid-19”.

A melhora, segundo a pesquisa, pode se dar por meio de três mecanismos: aumentando o nível e a função das células imunológicas; melhorando as funções do sistema respiratório, agindo como um antibiótico, antioxidante e antimicótico; e atuando como barreira protetora para diminuir os fatores de risco da Covid-19.

Ao mesmo tempo, porém, que fortalece a imunidade, o exercício físico pode enfraquecê-la. “Os estudos sugerem que pessoas que querem começar a treinar, que isso seja feito dentro de uma intensidade moderada, que melhora a função do sistema imunológico”, explica Ceschini.

“Para quem começa agora a se exercitar, treinar em uma intensidade vigorosa pode induzir o lado ruim do sistema imune, quando o organismo passa a produzir muitas substâncias com caráter inflamatório, que podem acelerar a progressão de doença.”

É como o iniciante na academia, que decide fazer uma alta carga de atividade –mesmo que poucas vezes na semana, mas com treinos longos– e após cerca de dez dias some porque está com algum tipo de indisposição, exemplifica o profissional de educação física.

Já uma pessoa que tenha um histórico de treinamento, lembra Ceschini, pode evoluir para um treino vigoroso, que colabora para melhorar o sistema imune, desde seja um treinamento prescrito por um profissional de educação física.

Mas como saber se estou na intensidade moderada da prática? “Quando se vai correr, por exemplo, se é possível correr e ainda desenvolver uma conversa, é moderado. Quando não se consegue, fisiologicamente é um indicador que está entrando na zona vigorosa de treinamento”, esclarece o especialista.

Para esse início, Ceschini ressalta ainda duas recomendações da OMS. A primeira, realizar 150 minutos de exercício por semana. Já a segunda, que esse tempo total seja diluído em vários dias, como de segunda a sexta, com 30 minutos por sessão, para que o hábito seja estimulado.

Com a pandemia, há um outro ponto de atenção relacionado ao uso de máscara, que é obrigatório como forma de conter a propagação do vírus. Recomenda-se que o item de proteção seja trocado caso o treino exceda 30 minutos ou 40 minutos, já que, se molhado, é um ambiente propício à proliferação de bactérias.

“Também deve-se prestar muito atenção no nível de desconforto”, ressalta Ceschini, que recomenda uma escala de 0 (nada de desconforto) a 10 (extremamente desconfortável) para fazer ajustes no treinamento, como um tempo maior de repouso entre exercícios da musculação ou reduzir a velocidade da corrida. “E o bom senso é sempre necessário nessa questão”, diz o especialista.

E a pandemia fez com que movimentar-se seja ainda mais importante. “No pós-pandemia, é muito provável o aumento de doenças como obesidade, pré-diabetes, hipertensão e transtorno de ansiedade e depressão”, explica o profissional de educação física.

“Muitos podem estar na linha tênue entre a doença e o grupo de risco e, fazendo exercício, cria-se um fator de proteção em ambos os grupos. Então, também para essas pessoas, o exercício é fundamental.”