Crise climática pode alterar calendário de provas de corrida, diz presidente da federação internacional de atletismo

Os apaixonados por corrida acompanharam de casa as duras condições impostas aos maratonistas durante a prova de 42,195 km nas Olimpíadas de Tóquio, realizadas nas manhãs de sábado (7) e domingo (8), no horário local, noite de sexta (6) e sábado no Brasil. Foram 15 desistências na prova feminina e 28 na masculina —entre elas, os brasileiros Daniel Chaves e Daniel Nascimento, que apresentava bom desempenho até colapsar.

Correndo sob forte sol e temperatura que quase alcançou os 30°C em Sapporo, as mulheres chegaram a ter sua prova adiantada em uma hora, para tentar diminuir o impacto climático na performance. Os homens tiveram temperatura mais amena e céu nublado, mas o calor, somado à alta umidade que esteve presente nos dois dias, também afetou a elite masculina do esporte. Isso que a sede da maratona olímpica saiu de Tóquio para a cidade mais ao norte porque esta seria mais fresca.

As altas temperaturas registradas no verão ao redor do mundo podem, assim, levar a uma grande reavaliação sobre quando grandes eventos esportivos devem ser realizados, afirmou Sebastian Coe, presidente da World Athletics, a federação internacional de atletismo, no domingo (8). “Foram condições difíceis [nas maratonas] e podemos muito bem enfrentar as mesmas temperaturas em Paris-2024”, avaliou, sobre a próxima sede dos Jogos.

“Nas qualificatórias dos EUA em Eugene [no estado do Oregon e sede do campeonato mundial no próximo ano], passava dos 40°C. Isso foi um desafio que vamos todos enfrentar agora, e que provavelmente precisará de um debate global em torno do calendário e como realizamos eventos”, disse Coe. “Não sou climatologista, mas a realidade é que, aonde quer que vamos, a nova norma será lidar com condições climáticas muito difíceis.”

Em um relatório divulgado nesta segunda-feira (9), cientistas do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) quantificaram o aumento da frequência e da intensidade dos eventos extremos ligados às mudanças climáticas. O cenário é difícil: a crise já agrava secas, tempestades e temperaturas extremas e é irreversível.

Entre as mensurações feitas está a de temperaturas extremas mais raras, que ocorriam uma vez a cada 50 anos entre 1850 e 1900, e hoje têm probabilidade de ocorrer 4,8 vezes no mesmo período e podem chegar 39 vezes em um cenário de mais de 4ºC de aquecimento global.

Há precedentes para a mudança do mês de realização dos Jogos: Tóquio-1964 e México-1968 ocorreram em outubro, enquanto Seul-1988 e Sydney-2000, em setembro. Via de regra, no entanto, prevalecem os meses de julho e agosto. Tendo em vista a questão climática, a Copa do Mundo do Qatar no ano que vem não será em junho e julho, como de hábito, mas foi adiada para novembro e dezembro, para evitar o período mais quente.

Com Reuters