Etíope Adola vence Maratona de Berlim e deixa para trás favorito Bekele

Quebrando o favoritismo de Kenenisa Bekele, o etíope Guye Adola venceu a Maratona de Berlim, cruzando a linha de chegada dos 42,195 km em 2h05min45seg. Em segundo lugar chegou o queniano Bethwel Yegon e o também etíope Bekele ficou em terceiro.

A maior surpresa veio entre as mulheres, com a estreante Gotytom Gebreslase chegando em primeiro lugar com tempo de 2h20min09seg, após despontar por volta do km 35. Ela foi seguida por Hiwot Gebrekidan (2h21min23seg) e Helen Tola (2h23min05seg), formando um pódio triplo da Etiópia.

Os homens chegaram a buscar o recorde mundial durante a primeira metade da prova, com Adola e Bekele entre os líderes. O ritmo, porém, ficou mais lento entre os km 20 e 25, o que eliminou qualquer chance de conquistar a marca.

Yegon, pelo contrário, forçou o ritmo para alcançar os líderes, e chegou a ultrapassar Bekele e Adola —o surgimento do queniano no pódio foi uma surpresa, já que ele estava fora do radar. Nos últimos km, porém, Adola recuperou a primeira posição.

O tempo bem acima do ainda imbatível recorde conquistado por Eliud Kipchoge na mesma Berlim em 2018, de 2h01min39seg, pode ser creditado, em boa parte, às condições climáticas. A largada por volta das 9h foi com temperatura de 16ºC, um pouco acima do habitual para a prova, e umidade de 86%, o que dificulta o desempenho.

Havia grande expectativa para essa quebra, ainda mais que o favorito Bekele ficou a dois segundos do tempo em 2019 —a última edição, já que a de 2020 foi cancelada devido à pandemia de coronavírus.

O etíope, no entanto, teve um desempenho irregular. Distanciou-se do pelotão líder no km 18 e cruzou a parcial de 20 km a 11 segundos dos quatro que estavam na frente, e a de meia maratona a 12 segundos.

O atleta buscou a diferença e diminuiu a diferença para 5 segundos na parcial dos 25 km e, antes do km 26, já estava novamente na liderança. Apesar da recuperação, voltou a perder o ritmo nos quilômetros finais.

O desempenho vem aquém daquele almejado. O representante de Bekele, Jos Hermens, disse a Podium Runner, antes da prova, que a busca era por um tempo rápido. “E um tempo rápido é claramente o recorde mundial. Não queremos anunciar uma tentativa oficial, mas obviamente Kenenisa não vir para correr 2:04, nem 2:03.”

A inconsistência é uma das marcas da carreira como maratonista de Bekele. Das últimas seis provas que participou, concluiu apenas metade. Neste ano, ficou fora das Olimpíadas por discordar do critério de seleção de atletas que disputariam pela Etiópia e, no ano passado, não conseguiu correr Londres devido a uma lesão na panturrilha.

A ausência de Bekele foi sentida nas duas provas pela aguardada disputa corpo a corpo com Kipchoge, desde o desempenho conquistado pelo etíope em 2019. Naquele ano, o queniano não participou da prova, pois se preparava para o desafio Ineos 1:59 Challenge, quando ele se tornou o primeiro atleta a percorrer os 42,195 km em menos de duas horas.

Os dois, inclusive, revezavam os títulos de Berlim desde 2015, com três vitórias para Kipchoge e duas para Bekele. Neste ano, o queniano optou por não participar da prova.

Além de um nome novo em seis anos entre os vencedores da prova, chama a atenção também que Adola é patrocinado pelo Adidas, quebrando a hegemonia da Nike, já que tanto Kipchoge como Bekele são apoiados pela marca americana. O mesmo ocorre entre as mulheres: se em 2019 Ashete Bekere cruzou a linha de chegada com tênis da Nike, Gebreslase o fez em 2021 com um par da Adidas.

As duas protagonizam uma disputa tecnológica dos calçados, envolta em polêmicas.

MARATONA DE BERLIM

​​A prova de Berlim é conhecida como a maratona dos recordes. Desde sua primeira edição, em 1974, 11 recordes já foram quebrados lá, sendo 8 no masculino e 3 no feminino. Dos 10 melhores tempos conquistados por homens, 5 foram alcançados na capital alemã. Já entre as mulheres, apenas 1 dos 10 melhores tempos está na lista berlinense —o 8º. Em 2018, a queniana Gladys Cherono completou o percurso em 2h18min11seg, atual recorde da prova.

Neste ano, a prova é a primeira entre as principais maratonas a serem realizadas desde que a pandemia de Covid-19 começou. Devido à crise sanitária, o número de atletas foi reduzido, e participaram 24.796 corredores de 117 países.

Os olhares agora se voltam para os próximos fins de semana, com as maratonas de Londres, em 3 de outubro, Chicago, em 10 de outubro, Boston, em 11 de outubro, e Nova York, em 7 de novembro. A de Tóquio também estava prevista para este mês, mas foi adiada para 6 de março de 2022, devido à situação da pandemia no Japão.